segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Igrejas evangélicas: aprecie com moderação

Igrejas evangélicas: aprecie com moderação


Luiz Andrada

10 ago. 2020

luizandradabh@gmail.com


A título de praticidade, vou denominar esse hospício valendo-me do termo geral “evangélicos”. Protestantes e evangélicos são a mesma coisa. Protestantes, grosso modo, protestam contra o estado de coisas da igreja romana, e pretendem reformá-la. São as igrejas históricas: luterana, anglicana, calvinista. Os evangélicos alegam total independência teológica e litúrgica da igreja romana: batistas, pentecostais, neopentecostais, etc. Eu chamarei a todos de evangélicos.


É preciso alguma objetividade e praticidade para avaliar esse confuso fenômeno de charlatões e impostores. Mesmo porque, há no mundo cerca de 45.000 religiões diferentes entre esses loucos que há mais de 500 anos protestam. São eternos insatisfeitos. Protestam contra tudo, menos contra si mesmos. E a multiplicação dessa patologia religiosa é ininterrupta. Evangélicos, ponto final. Ainda que pouco tenham a ver com o evangelho.


E não nos esqueçamos das seitas evangélicas, como testemunhas de Jeová, mórmons (atualmente a igreja mais rica do mundo), adventistas, judeus messiânicos, e uma infinidade de outras tantas. Eles são infinitamente criativos na sua procriação.


Eu conheci essa fábrica de loucos por nove anos. E sou muito grato à vida porque foram apenas nove anos. Sinto muita compaixão por quem passa vinte, trinta, quarenta, cinquenta, sessenta anos enfiado dentro desses hospícios. Em todos os ambientes nos quais estive sempre fui muito cético e arredio, observando tudo com cautela e procurando manter distância dos cães mais bravos que eu encontrava por aí. A religião evangélica seduz por causa do engajamento dos seus fiéis — teatralidade, histeria —, e por causa do imenso volume de suas igrejas. Infelizmente, essa é a religião que mais cresce em solo brasileiro, fenômeno muito bem explicado pela mentalidade torpe, vazia e fútil do nosso povo. É fácil lavar o cérebro de pessoas influenciáveis, manipuláveis, sugestionáveis, que aceitam tudo e temem questionar. Muito fácil. Aliás, as igrejas evangélicas não são religiões, mas empresas, franquias, negócios. Abra a sua igreja, e enriqueça em poucas semanas.


Sim, esses grupos evangélicos são imensos, suas portas de entrada são enormes, mas poucos falam que suas portas de saída, nos fundos, conseguem ser maiores, e manadas imensas abandonam essas religiões. Sobre esse fenômeno os pastores pouco falam. Inclusive, essas igrejas costumam ser verdadeiras fábricas de ateus, porque muitos fiéis se decepcionam com Deus, com os ensinamentos, com as falsas promessas de riqueza material, emprego, saúde perfeita, proteção contra os perigos, e na primeira frustração rasgam suas bíblias e aderem ao ateísmo. Eu conheci vários testemunhos assim. É a santa igreja dos ateus ex-evangélicos.


Você pode optar pelo que bem entender. Há todo tipo de guru abrindo sua igreja por todo canto neste país e neste mundo. Eles se convertem a si mesmos em apóstolos, reverendos, bispos, missionários. Todo mundo merece um bico. Desde algo mais liberal, até algo mais rígido. Você pode ser tradicional ou carismático. Como os pastores são empresários, e eles visam o lucro, a opção pelo movimento carismático é a mais óbvia. Igrejas carismáticas nada mais são do que discotecas, e isso incha a igreja, atrai jovens, e aumenta a receita de dízimos, ofertas, doações, tudo em nome do Espírito Santo. Eu sempre desconfiei das doutrinas carismáticas, e sempre tive a clara impressão de que, ao entrar numa igreja renovada, eu estava entrando numa seita esotérica, da nova era, na qual seus membros vivem com a cabeça nas nuvens, imersos em catarses sentimentalistas, navegando em um mundo sobrenatural de anjos e de demônios. Enquanto muitos católicos só falam em Maria, muitos evangélicos carismáticos só falam no Espírito Santo (não estou afirmando que isso seja idolatria); e há severas acusações por parte de teólogos contra essa prática, mesmo porque essa não é a conduta dos cristãos do Novo Testamento. Jesus Cristo é o centro, e não o Espírito Santo.


Essas franquias já inventaram, inclusive, o fenômeno de igrejas protestantes históricas carismáticas, de tal maneira que, por exemplo, o fiel encontrará maluquices como uma igreja de anglicanos carismáticos. Como essas igrejas históricas e tradicionais estão falindo, a saída encontrada pelos pastores é aderir à renovação carismática, com todas as suas gravíssimas perturbações psicológicas. Na Europa, as igrejas históricas estão em decadência, e seus templos são vendidos para se tornarem boates, museus, cafeterias, hotéis, bibliotecas e até pista para skate. Ou você opta pela renovação carismática, ou a sua igreja fecha as portas. Os testemunhos dos perigos e dos danos psíquicos causados pelo movimento carismático são facilmente encontrados na internet. Vários autores já publicaram artigos e livros sobre esse assunto. É justamente no meio carismático que mais ocorrem processos graves de lavagem cerebral e manipulação de consciências, por causa da facilidade de acesso à mente das pessoas que estão mergulhadas em emoções, sentimentos, choradeira, histeria coletiva, fragilizadas. Muitos pastores tradicionais não economizam palavras ao afirmarem, com razão, que há fenômenos claramente demoníacos no meio carismático.


Os presídios brasileiros também são imensos campos de evangelização por parte dessas igrejas. Sabendo que suas penas são reduzidas, os criminosos passam a estudar a bíblia e a teologia, e logo são ordenados pastores. Quando saem da cadeia continuam praticando crimes, com a diferença de que agora o fazem em nome de Jesus Cristo. Um detalhe da psiquiatria forense: nenhum psicopata se converte, nem muda de vida, nem se arrepende. Ele apenas usa a religião para manipular idiotas, haja vista sua habilidade espetacular para convencer as pessoas.


Nesse meio você pode ser de esquerda, ou de direita. Você pode ser feminista, ou conservadora. Você pode usar roupas ridículas, como uma palhaça de burca, ou pode ser mais gatinha e seguir o estilo moderno. Você pode ser ecumênico, ou contra o ecumenismo. Você pode ser da militância LGBT, e afirmar que Davi e Jônatas eram amantes homossexuais, que Jesus Cristo e o apóstolo João eram amantes homossexuais, ou pode ser contra o homossexualismo. Enfim, cada palhaço evangélico encontra o circo que merece.


Toda essa afetação evangélica, essa discurseira e falação insuportáveis e vazias sobre santidade e unção do Espírito Santo nada mais são do que hipocrisia pura, perversão clara. São muitos os psicopatas e criminosos dentro das igrejas evangélicas. Há acusações terríveis por parte de ex-evangélicos que sofreram absurdamente dentro dessas igrejas. Em pouco tempo nesse meio o sujeito observa o comportamento pecaminoso e inadequado de pastores e de leigos, homens e mulheres. O pastor parasita que aparece circulando de carro importado, vivendo numa linda casa, enquanto os fiéis vivem vidas pobres e modestas; a líder da juventude que prega contra o homossexualismo, mas é descoberta namorando uma moça; o leigo que pratica corrupção na sua empresa; o político evangélico exigindo votos da sua igreja, e depois envolvido em propinas com empreiteiras; o pastor pentecostal, assembleiano, rígido e fanático, que abusou sexualmente de meninos da sua igreja; o bispo ladrão que foi preso; o casal de bispos preso nos USA por tentarem entrar naquele país com dólares não declarados, e por manterem dívidas trabalhistas; o pastor criminoso que praticou extorsão contra seus fiéis e foi preso; o pastor batista que abusou sexualmente de moças adultas e menores de idade; o pastor que roubou o carro de um fiel, sob pretexto de dízimo, e sob ameaça de castigo de Deus se o fiel resistisse; a imensa quantidade de mentiras que são ditas em nome de Jesus, pelos pastores, nos seus púlpitos; a idolatria dos egos doentios dos pastores que querem construir mega igrejas, mega fortunas, para comprarem mega carros e mega casas; a igreja que debita diretamente do contracheque o dízimo dos seus funcionários; a igreja que contrata centenas de funcionários e não paga devidamente todos os impostos trabalhistas; a igreja que manipula e obriga várias pessoas a assinarem declarações como voluntários, forçando-as a trabalharem de graça, e muito mais do que os empregados formais; a idolatria dos egos doentios de cantores e de grupos de louvor que só pensam em vender CDs e construir mega fortunas, e que são muito mais vaidosos do que artistas não cristãos; etc.


As igrejas evangélicas não são as depositárias da verdadeira religião cristã, como alardeiam seus setores de marketing. Uma adventista, norte-americana, embora pertencendo a uma igreja mergulhada em erros teológicos, me disse algo muito verdadeiro: “Luiz, o melhor para todos nós, diante do caos que se tornou o movimento evangélico, é sair das igrejas, abandonar completamente esses grupos, e vivermos a nossa fé cristã de maneira independente, sem vínculo de pertencimento a nenhuma igreja!”. Em outro momento, essa pessoa disse que muitas igrejas evangélicas serão o solo para o aparecimento do anticristo, com seu evangelho traiçoeiro, profano, dinheirista, curandeiro, charlatão.


Eu permaneço cético e observador, colhendo das minhas observações a certeza de que os evangélicos formam o grupo mais perigoso e mais tóxico dentro do Cristianismo.



Thomas Jefferson against Calvinism