Um povo que lutou
Luiz Andrada
12 jan. 2021
Eu não sou adepto de nenhuma ideologia de esquerda, mas também não sou militante da extrema-direita. Há brasileiros pedindo o retorno do AI-5, numa clara tentativa de sepultar definitivamente o Brasil. Imagino qual país desejará negociar com o Brasil do AI-5, em pleno ano 2021. Não pertenço a essa direita.
Nasci em duas famílias envolvidas com a política, uma mais à esquerda, e a outra mais à direita. Meu pai, nicaraguense, imigrou para o Brasil para não ser morto na guerrilha que assolou a Nicarágua. Quase todos os meus tios fugiram para os EUA, e apenas duas tias optaram por permanecer na terra natal (uma já é falecida).
O povo nicaraguense sofreu horrores nas mãos de um clã de psicopatas, a dinastia Somoza, que presidiu por décadas aquele país. Com o apoio financeiro e bélico dos EUA, os Somoza assassinaram milhares de conterrâneos, enquanto obrigaram a nação a viver de quatro e a corresponder aos caprichos norte-americanos.
Augusto César Sandino, herói nacional, se rebelou contra aquela situação e inspirou o que viria a ser, após a sua morte, a guerrilha sandinista. Na época da revolução sandinista o psicopata presidente era Anastasio Somoza Debayle. Foram entre 30 a 50 mil mortos durante os confrontos que culminaram com a vitória dos sandinistas em 1979. Nicarágua celebrou por dias nas ruas. Neste ano eu e minha família nos mudamos para aquele país, no qual vivemos até 1981.
Após cerca de um ano, o psicopata Anastasio Somoza Debayle teve um encontro fatal, no Paraguai, para onde havia se exilado. Uma emboscada composta de sete sandinistas, quatro homens e três mulheres, fortemente armados, transformaram Somoza em carne moída quando ele saía dirigindo o seu carro. Diz a narrativa que sobrou apenas o bigode de Somoza. Ponto final.
Pra que dizer tudo isso? Simplesmente para mostrar como um povo pequeno, pobre, mas revoltado e determinado, conseguiu destruir uma dinastia assassina apoiada pelos EUA. É claro que eu não advogo a necessidade desse tipo de violência. Mas, luta é luta. E sinto muito dizer isto, mas é verdade: o brasileiro é o povo mais bundão e covarde que eu conheço. Temo que essa característica não tenha cura. É eterna.
