O telejornalismo brasileiro virou uma eterna fonte jorrando sangue
Luiz Andrada
14 jul. 2021
A televisão brasileira causa arrepios de nojo. O vazio de sentido dos seus programas, das suas celebridades é algo patológico e perigoso, pois influencia uma parcela imensa da sociedade com aquilo que há de pior na mente humana. O projeto de imbecilização das pessoas segue prosperando, e sem qualquer controle das autoridades. O futuro será medonho.
O telejornalismo no nosso país está quase totalmente dedicado ao tema da violência. Há jornalistas especializados na disseminação do pânico, horror, terror. Esses profissionais do sensacional se assemelham a profetas da desgraça. São palhaços histéricos. Se analisarmos o teor dos jornais apresentados por esses imbecis constataremos que o jornalista sente um imenso prazer por divulgar a desgraça alheia, e fazer alarde desumano com a dor do próximo. Aliás, que se dane a dor do outro, o jornalista quer audiência para os produtos, serviços e coisas que ele anuncia no seu programa e nos intervalos comerciais.
Grande parcela da mídia vive da pornografia da dor alheia. Tem que exibir tudo, tem que mostrar tudo, tem que escancarar tudo. O horror conquista olhares, e aumenta os índices de audiência. Há algo de mórbido em quem relata crimes de maneira frenética, como se fosse um locutor de rodeios, e em quem assiste a essa porcaria. Há algo de sádico em uma jornalista que interpela uma mãe instantes após o assassinato da sua pequena filha, e lhe pergunta: “O que você está sentindo?”. O gesto mesmo de abordar uma pessoa nessas condições e lançar tal pergunta deveria ser o suficiente para iniciar um processo judicial contra a jornalista. Não é a dor da mãe que interessa ao profissional da mídia e à sua emissora de televisão. O que interessa é vender os produtos anunciados na sua grade de programação. O colchão massageador vale muito mais do que a filhinha assassinada.
O governo deveria impor limites a esse tipo de jornal diabólico, especializado em propagar atrocidades, diante inclusive das nossas crianças. Como uma criança interpreta a notícia sobre uma mãe que desferiu facadas contra a própria filha? Essas notícias impactam a saúde emocional das crianças? Não há qualquer problema em divulgar chacinas diante dos menores de idade? Algum órgão governamental já avaliou os impactos dessa mídia imunda sobre a sociedade?
A emissora de televisão não paga as contas dos tratamentos médicos de quem se aventura a assistir seus filmes de terror, os telejornais. Ansiedade, pânico, depressão, violência, homicídio, suicídio. Até que ponto a televisão propicia o desenvolvimento dessas doenças e atitudes? Os jornalistas assumem responsabilidade pelo prejuízo que causam à paz de espírito dos cidadãos?
Talvez a solução seja desligar a televisão, ou pelo menos boicotar esses jornais e outros programas perniciosos. As emoções agradecem.