quinta-feira, 14 de outubro de 2021

A imprensa canoniza quem furta

A imprensa canoniza quem furta



Luiz Andrada

14 out. 2021

luizandradabh@gmail.com





A habilidade cretina da imprensa em manipular otários é, de longe, a característica mais medonha dessa instituição e dos seus profissionais vendedores de mentiras, e seguramente a sua maior força — ou fraqueza. Os jornalistas criam factoides, aumentam o pequeno, diminuem o exacerbado, colorem o monocromático e acinzentam o colorido. Ou seja, distorcem o que lhes convém de acordo com o paladar ideológico que orienta as pautas das suas redações. Tudo pela audiência, tudo para vender os produtos anunciados na sua grade publicitária. O único objetivo é prender o telespectador diante da máquina de mentiras, e fazê-lo consumidor do lixo que a coisa anuncia. Todos nós já ouvimos os jornalistas dizendo: “Não saia daí, nós voltamos em um minuto!”. Eu sou do tipo infiel e desobediente, e saio. De algumas emissoras, inclusive, eu saí definitivamente.


Nestes últimos dias fomos todos legitimados pela imprensa brasileira à prática do furto. Se uma mulher pode, todos nós podemos. É o princípio da igualdade, da paridade. Uma mulher dependente química, moradora de rua há dez anos, foi presa cinco vezes pelo mesmo crime de furtar supermercados. Na quinta vez ela tornou-se celebridade da imprensa mortadela, tendo sido aprovado de imediato o seu processo de beatificação. Na verdade, ela já foi canonizada. Apareceram demagogos esquerdistas da política, da imprensa, todos carregando consigo os santinhos da ladra, e pedindo bênçãos a ela. A boa ladra. Mas, existe bom ladrão? Ou mau ladrão, arrependido? E ela, será que se arrependeu? A dose de demagogia piegas na televisão brasileira nesta semana foi de arrasar. Estou ainda tratando uma diarreia aguda, causada pela falsidade dos jornalistas. Meu intestino entortou. Queria ver se a mulher roubasse cinquenta reais da carteira desses jornalistas. Será que os demagogos beijariam as mãos dela? Ou chamariam a Polícia Militar?


Eu duvido que essa senhora tenha roubado para alimentar seus cinco filhos. Provavelmente, roubou para comprar drogas. Aliás, eu duvido que ela sequer mantenha contato com os filhos. Se eu fosse membro da família, não permitiria que uma drogada se relacionasse com cinco menores de idade. Conheço finais trágicos para esse tipo de cenário familiar. Mesmo assim, os jornalistas tão filantropos teceram canduras pela mãe heroína que roubou para alimentar a sua prole. Será? Ou roubou para alimentar o seu vício? Como o jornalista pode ter certeza sobre o destino daqueles produtos furtados? Ele seguiu a mulher após o furto?


O que a imprensa está fazendo é motivar outros moradores de rua, drogados, empobrecidos a cometerem o mesmo tipo de furto. Tudo com o aval da canalhice desses jornalistas sensacionalistas, que vivem da exploração da tragédia alheia. Seguramente, outros criminosos aparecerão para o encantamento da imprensa, que saberá explorar a matéria com maestria, para fazer funcionar aquela máquina de vender citada acima. “Eu, jornalista, preciso de homicídio, estupro, violência, sangue jorrando, para poder vender televisão por assinatura e prótese dentária. Muito obrigado, criminosos!”.


Essa senhora precisa de ajuda, de tratamento psiquiátrico, de acolhida numa casa de recuperação competente e eficaz. Ela precisa de apoio para cuidar da sua saúde integral. Como compreender que uma pessoa na gravíssima condição de miserabilidade e dependência química tenha gerado cinco filhos? E por que isso é tão comum nas populações carentes? Por que os pobres não param de gerar filhos, tendo consciência das penúrias que vivem? Por que essas pessoas não se submetem a laqueadura, vasectomia, uso de contraceptivos, tudo isso oferecido pelo SUS? Por que insistem em criar oito filhos num cubículo do tamanho de uma cozinha? Será que o fazem almejando receber maiores quantias em programas sociais do governo, como o bolsa família? Essas pessoas precisam de ajuda, orientação, aconselhamento. Eu vejo no meu país uma imensa população carente completamente desnorteada, metendo os pés pelas mãos. E o fim disso costuma ser a violência, o mal, o crime, como assistimos na vida dessa senhora que acaba de ser solta da cadeia. E se ela não encontrar ajuda, voltará a cometer furtos. E a imprensa cretina deste país estará por perto para canonizá-la. Afinal, as emissoras hipócritas precisam explorar dramas e infernos pessoais para vender pacotes de turismo, banco digital, creme hidratante.


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