domingo, 3 de abril de 2022

O clero é um câncer

O clero é um câncer



Luiz Andrada

3 abr. 2022

luizandradabh@gmail.com





Quando o homem vivia nas cavernas, em tribos primitivas, um demônio travestido e irmanado aos humanos, movido pela grotesca ambição de controlar, espoliar almas, esmagar, aterrorizar, tornou-se o rei da tribo, o senhor do discurso sobrenatural. O primeiro dessa estirpe talvez tenha sido aquele que conversava com os raios, os trovões, para o assombro dos demais. E para apaziguar os céus o cretino provavelmente exigia da tribo mais alimentos, sexo, honrarias. Esse escroto foi o bisavô do padre. O tempo passou e o porta-voz dos céus tornou-se mais sofisticado e esperto. Essa entidade maldita é o pajé, xamã, sacerdote, mediador, padre, bispo, cardeal, papa, monge, pastor, médium, rabino, imã, clérigo. Essa é a casta cancerígena que tiraniza a humanidade desde eras imorredouras. O clero. O grupo dos eleitos que dissimulam uma intimidade especial com Deus, afetação essa que legitima todos os desmandos e crimes dessa autoproclamada elite espiritual. Uma autêntica máfia divina.


O clérigo é a porta pela qual os fiéis devem passar a fim de conquistar as bênçãos e dádivas, a terra prometida. Suas palavras repletas de falsas certezas oferecem alento à alma do perdido. Na fé cristã, o clérigo substitui o próprio Jesus Cristo. O cristianismo institucional disseminou uma arraigada dependência do fiel leigo em relação ao senhor feudal da igreja, o padre. Se fizermos uma revisão honesta da nossa passagem pelo cristianismo corporativista perceberemos que por inúmeras ocasiões nos dirigimos aos padres e pastores a fim de solicitar a bênção, a oração e a direção para as nossas vidas. E Jesus Cristo pendeu na cruz justamente para nos garantir aquilo que tantas vezes exigimos de pobres e infelizes seres humanos. Rejeitamos Jesus, e em seu lugar entronizamos essa horda asquerosa do clero, essa lepra medonha. Péssima permuta. E por essa troca estamos pagando o preço do sofrimento causado pelo clero em praticamente todos os países, nas mais variadas religiões, sobressaindo obviamente o cristianismo no mundo ocidental.


Em um artigo na internet, um padre soberbo e arrogante, membro de uma seita católica das mais perigosas e deletérias, um grupo ultrafanático, ultraconservador e de extrema-direita, o Opus Dei, disse “humildemente” de si mesmo, ao explicar o sacerdócio católico, que o padre é “outro Cristo” no seio da igreja, mas muito além disso, que o padre é também “o próprio Cristo” no seio da igreja. Ele corroborou a eterna mentira católica de que o padre é o embaixador supremo de Deus na terra, e ponto final. Essa mentira é a maior causadora de todo o abismo de crimes horrendos que os padres, bispos, cardeais e afins cometem diuturnamente no catolicismo romano, desde crimes financeiros a sexuais, desde ameaças a estupros de freiras, desde assédio moral a humilhação, desde mentiras a manipulações, desde orgias homossexuais financiadas com o dinheiro dos fiéis (1) (2) a envolvimento com políticos. Quem assume o papel de rei, soberano, monarca, imperador da paróquia e das almas, já deu o primeiro passo para conseguir facilmente invadir os corações e depois estuprar os corpos. Aquele que reina tem o “direito” de fazer o que bem entende com o corpo dos plebeus. O clero católico romano é a maior reunião de psicopatas envolvidos com o discurso religioso, ao lado de outras profissões que também atraem perversos e sociopatas.


A igreja católica romana se transformou em monarquia autocrática, uma espécie de corte povoada por exemplares humanos da pior espécie. O papa reinou absoluto como o imperador do mundo, o administrador das coisas espirituais e também das coisas terrenas. Durante gerações o papa se assentou em tronos revestidos de glória e foi carregado em procissão em cima dos ombros de fiéis plebeus, para ser adorado e aclamado. Até o passado recente, o pontífice romano usou a tiara papal, uma espécie de indiscreta e luxuosa coroa de três andares, semelhante ao World Trade Center, para simbolizar a sua autoridade e também a Santíssima Trindade. Toda essa exaltação e prepotência contaminaram, num efeito pandêmico, a inteireza do clero católico. Paramentos, roupas diferenciadas, luxo servem para dizer ao fiel que o padre é um ser superior, separado por Deus para legitimar, validar e autenticar o discurso religioso. Beijos ardentes nas mãos afeminadas, delicadas e sedosas da dinastia clerical servem para reforçar a submissão à máfia sacerdotal. O resultado de toda essa cultura perversa está diante de nós, há milênios, em todas as páginas policiais dos noticiários. Quem reverencia o demônio, vira escravo dele.


Os pastores protestantes também exercem fascínio sobre a boiada reunida na igreja. Eles sabem exatamente tudo sobre quaisquer assuntos, tais como finanças, psicologia, sexo, política, criação de filhos, cartão de crédito, bolsa de valores, teologia, filosofia. São deuses caminhando na terra, prontos a disparar respostas certeiras para todos os dilemas da humanidade. E os imbecis adoram seguir esses pastores cegos que caminham para dentro do buraco. A consequência tem sido catastrófica, pois em vários países, inclusive no Brasil, o suicídio de pastores está crescendo assustadoramente. Quem escolheu fazer papel de Deus para carregar o peso do mundo nas costas acaba descobrindo tarde demais que é apenas um simples ser humano. Será que vale a pena?


O clericalismo funciona de maneira extremamente perversa e demoníaca. Um exemplo de mentalidade escravizada ao clero é o daquele pai que agrediu fisicamente a própria filhinha, quando ela abriu o coração e denunciou o padre que cometeu abuso sexual contra ela. Após a agressão contra a filha, o pai ordenou: “Respeite o padre! Nunca mais fale isso!”. E o clérigo sabe disso, e compreende o mecanismo de funcionamento do discurso espiritual e religioso, e o encantamento que essa verborragia cristã exerce sobre a frágil mentalidade de imbecis. Há uma aura sutil, ou mesmo algo escrachado, de ameaça contra quem ousar enfrentar e denunciar um padre, como uma condenação aos infernos. E o clérigo sabe disso, e aproveita todas as oportunidades. A serpente deseja apenas um otário no caminho, e basta.


A monarquia clerical está, de geração a geração, destruindo a fé de uma multidão de fiéis. E essa talvez seja a maior graça que estamos recebendo, ao compreendermos que esse modelo imposto pelo cristianismo institucional está esgotado e falido. Quando a fortuna dos sacerdotes diminuir, porque as igrejas estão esvaziando, talvez por pura ganância eles encontrem outros métodos e até apresentem uma falsa cura para o clericalismo, a fim de perpetuarem seu oficio de parasitas e sanguessugas, vagabundos e ladrões. A experiência de investir energia, vida e tempo para se dirigir a algum espaço cristão e ouvir um idiota no altar impondo o seu ego sobre as demais pessoas é algo enfadonho, sem sentido, sem propósito. Esse modelo atende apenas ao clero, que é ávido por sexo, poder, controle, dinheiro. Este mundo absurdo chegou ao século XXI e ainda mantém uma série inominável de vícios e defeitos de séculos e milênios passados. O cerne da fé cristã não é o clérigo. O Evangelho não nos ensina a vivermos atrás de sacerdotes e pastores. As opiniões do líder cristão não são as opiniões de Jesus Cristo. Não foi isso o que Jesus nos ensinou. Mas, após dois mil anos é evidente que ainda temos muito a aprender.


Notas


(1) As orgias do padre Bartolomeu


Disponível em: <https://istoe.com.br/as-orgias-do-padre-bartolomeu/>. Acesso em: 13 abr. 2022.



(2) Padre [HIV positivo] é preso por desviar dinheiro da igreja para orgias gays e drogas


Disponível em: <https://noticias.r7.com/internacional/padre-e-preso-por-desviar-dinheiro-da-igreja-para-orgias-gays-e-drogas-25092021>. Acesso em: 13 abr. 2022.


Thomas Jefferson against Calvinism