terça-feira, 24 de maio de 2022

A direita é tão perigosa quanto a esquerda

A direita é tão perigosa quanto a esquerda



Luiz Andrada

24 maio 2022

luizandradabh@gmail.com



Jair Bolsonaro recebe no Planalto e abraça alegremente seus pares neonazistas, a deputada alemã Beatrix von Storch, neta de Lutz Graf Schwer, ministro das Finanças de Adolf Hitler, e o seu marido, Sven von Storch. O Brasil e o mundo inteiro ouviram o grito “Heil Hitler!”.



O comunismo ainda hoje é uma ideologia destruidora. Pouco mais de 100 anos após a Revolução Russa de 1917, encontramos cerca de 100 milhões de pessoas assassinadas por regimes comunistas, em nações como União Soviética, China, Camboja, Vietnã do Norte, Alemanha Oriental, Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Coreia do Norte, Cuba, Laos, Albânia, Iugoslávia, Romênia (1). 


Podemos incluir ainda exemplos atuais do nosso continente, como o meu país paterno, a Nicarágua, e a Venezuela, nos quais a população sofre debaixo de ditadura socialista, empobrecimento generalizado, controle violento da oposição e da imprensa, agressões, ameaças e assassinatos. Nos protestos de 2018 contra o governo de Daniel Ortega, em Nicarágua, cerca de 328 pessoas foram assassinadas pelo regime sandinista, e mais de 88.000 nicaraguenses fugiram do país em busca de liberdade (2). Vale recordar que Daniel Ortega e os sandinistas são amigos e parceiros ideológicos do ex-presidente Lula, o presidiário de Curitiba, e de toda a trupe esquerdista na América Latina e no mundo. Gente muito boa, como se percebe.


O saldo tenebroso do comunismo revela uma ideologia das mais perigosas que a mente humana foi capaz de elaborar e implantar. Como é possível que alguém ainda defenda o comunismo? Como é possível que os países democráticos permitam a existência de siglas partidárias comunistas extremamente radicais? O próprio Estado nutrindo, através do fundo partidário, o lobo faminto e voraz?


Mas, a falsa panaceia proposta para erradicar os males terríveis da esquerda está se transformando num problema gravíssimo, tão perigoso quanto a moléstia original. A direita é uma baderna absoluta, uma mescla de fundamentalismo religioso com pitadas picantes de totalitarismo estatal. Há direitistas no Brasil empunhando a religião em uma mão e o AI-5 na outra mão. Essa coisa tétrica que estão identificando como direita pelo mundo afora se parece mais com o monstro comunista, notando-se apenas a singela diferença do verniz sobre a pele, pois um é vermelho, e o outro é azul.


Será que a solução ideológica para a nossa sociedade é despencar no extremo oposto, uma direita que é igualmente violenta, perigosa e destruidora?


Nós somos pelotões de alienados incapazes de desobedecer aos comandos de “direita volver” ou “esquerda volver”? Não há outras opções na mesa? Não há outras cartas no baralho? E de onde nascem essas vozes de comando? Quais são os grupos e os interesses financeiros astronômicos por trás desse jogo político? E se ninguém mais suportar e nem quiser a esquerda, a direita, o centro? O que restará? Não há nada no mundo além disso? A mente humana é tão limitada assim?


Ontem esquerda petista, hoje extrema-direita bolsonarista, amanhã esquerda petista novamente. E depois de amanhã, o que virá? Um novo AI-5 para derrubar os petistas que fatalmente roubarão mais do que roubaram no passado? Será que é isso mesmo o que o povo brasileiro deseja? Viver como pêndulo fanático e extremista, a cada momento num polo distinto, como bicho raivoso?


A direita é um problema assim como a esquerda. O brasileiro precisa empenhar atenção máxima a esse grupo político, porque na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo, muitos membros da direita se misturaram aos seus irmãos gêmeos da extrema-direita, e alguns mais perturbados estão cometendo reiterados ataques terroristas e tiroteios que resultam em várias pessoas assassinadas. Eles se declaram orgulhosamente racistas, supremacistas brancos, fascistas, nazistas, trumpistas, xenófobos, religiosos conservadores e fundamentalistas. Ou seja, direitistas.


A direita não é esse grupo cristão e beato que seus membros tanto pavoneiam, e que o seu setor de marketing apresenta de maneira fraudulenta à sociedade. Aliás, o que a fé cristã tem a ver com a esquerda, direita, centro, ou com o raio político que o parta? Será mesmo que a direita é a porta-voz oficial de Jesus Cristo neste mundo? Quem disse tal asneira? Qual padre estuprador de crianças disse isso? Qual pastor estuprador de contas-correntes disse isso?


Assim como seus pares europeus e norte-americanos, direitistas brasileiros estão consumindo pela internet toneladas de material ideológico nazifascista, racista, etc. Uma antropóloga brasileira que pesquisa o fenômeno nazista no Brasil encontrou, até o ano passado, 530 células nazistas sediadas na internet, e em plena operação no nosso país. E o número segue crescendo. A polícia brasileira já encontrou literatura nazista e armas com esses grupos extremistas. Teme-se inclusive que esses nazistas estejam planejando massacres em escolas, haja vista a admiração de alguns desses perturbados por um jovem que perpetrou um massacre numa escola de Suzano, em São Paulo, em 2019 (3). O ser humano tem por hábito imitar as pessoas que admira. Recomenda-se ouvir com muito critério os alarmes apresentados pelas forças de segurança e por esses pesquisadores acadêmicos. Coisas muito tristes ainda podem acontecer neste país, infelizmente. O que pretende fazer aquele que se alimenta da obra de nazistas que assassinaram onze milhões de vítimas na Segunda Guerra Mundial, das quais seis milhões eram judeus?


O povo brasileiro é presidido por um militar de psiquismo abobalhado e de inteligência rasa, ídolo da direita cristã, que expõe uma afetação medíocre de salvador da pátria, amigo de neonazistas, que debochou de centenas de milhares de brasileiros mortos pela covid-19, que já celebrou diversas vezes o assassinato de esquerdistas nas mãos de regimes políticos de direita, etc. Um exemplo foi a sua declaração, no passado, de que “Pinochet devia ter matado mais gente” (4). O ditador chileno assassinou 3.000 pessoas e torturou outros milhares de cidadãos. E Jair Bolsonaro pediu mais sangue. O governo federal está cercado por uma mística militar, sustentada por um cristianismo pulguento, de cães bravos. Parece que alguém nos convenceu de que a solução para as nossas vidas está no coturno e naquela coisa maldita e perigosa chamada igreja. Entre tantos grupos cristãos que militam pelo presidente, encontra-se uma espécie de maçonaria católica, super secreta, chamada Opus Dei. Essa seita sombria, ultrafanática, ultraconservadora, que incentiva ainda hoje o uso de instrumentos medievais de autoflagelação e mortificação, como o chicote e o cilício, apoiou ditaduras assassinas de extrema-direita, como a de Francisco Franco, na Espanha, e a de Augusto Pinochet, no Chile. Daí se percebe que Bolsonaro está acompanhado por pessoas que pensam exatamente igual a ele. Provavelmente, o Opus Dei também lamenta que Franco e Pinochet mataram poucos.


Eu já ouvi cristãos bolsonaristas afirmando: “o Brasil precisa de um novo AI-5!”, “fulana recebeu poucos choques na época da ditadura militar; ela deveria ter recebido mais choques na vagina!”, “temos que fuzilar toda essa cambada esquerdista!”, etc.


O atual presidente é uma evidência de que nós brasileiros não sabemos votar. Se eu tivesse lido com mais critério a biografia política do Bolsonaro jamais teria apertado os números dele na urna eletrônica. Esse homem é uma máquina de fake news, e agora colhe o seu fracasso político diante de um marginal do mesmo quilate que o dele. Aliás, o Bolsonaro é uma fake news ambulante, como todo político. Lula e Bolsonaro, esquerdistas e direitistas, são palhaços do mesmo circo, artistas especializados em encenar no palco a redenção do povo, como falsos cristos, enquanto não conseguem salvar nem mesmo suas malditas línguas e suas biografias escritas com merda. Novamente, o brasileiro vai retirar um psicopata militar e entronizar um psicopata bêbado, ladrão e ex-presidiário, acreditando na retórica mofada de que o remédio contra a esquerda é a direita, e o remédio contra a direita é a esquerda. Até quando faremos isso?


Eu estou assombrado diante do que está acontecendo no mundo da política. Em pleno século XXI, os “superiores” e “civilizados” dos países desenvolvidos estão ressuscitando tudo o que nunca prestou, como uma paixão necrófila pela cultura de morte, dor e sofrimento que a direita e seus rebentos provocaram na história humana. E em diversos países ocidentais o cristianismo, das mais variadas denominações, é a base que sustenta esses soldados do fanatismo político. Quem é esse cristão que cultua o nazismo e o fascismo? Ele é idêntico a quem cultua o comunismo e o Estado forte, opressor, totalitário. Neste país, uma das diferenças com a esquerda é que a direita impõe um totalitarismo semelhante a um talibã cristão, uma milícia que deseja enfiar o cristianismo goela abaixo das pessoas. Um método que Jesus Cristo não aprovaria. Militares de um lado, religiosos fanáticos do outro. Definitivamente, nós estamos retrocedendo. O Brasil não merece nem a esquerda e nem a direita. Nós precisamos pensar em outras alternativas.



Notas



(1) Mass killings under communist regimes


https://en.wikipedia.org/wiki/Mass_killings_under_communist_regimes




(2) La CIDH contabiliza 328 muertos y 88.000 exiliados por la crisis en Nicaragua


https://www.efe.com/efe/america/sociedad/la-cidh-contabiliza-328-muertos-y-88-000-exiliados-por-crisis-en-nicaragua/20000013-4083286




(3) ‘Um ídolo para eles’: investigação sobre neonazistas revela admiração a autor de massacre em Suzano


https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59733205




(4) Onze vezes em que Bolsonaro ofendeu vítimas da ditadura


https://congressoemfoco.uol.com.br/temas/direitos-humanos/onze-declaracoes-de-bolsonaro-em-defesa-da-ditadura/


Thomas Jefferson against Calvinism