quinta-feira, 21 de julho de 2022

Uma mulher idosa e doente desrespeitada e invadida por toda uma nação

Uma mulher idosa e doente desrespeitada e invadida por toda uma nação



Luiz Andrada

21 jul. 2022

luizandradabh@gmail.com





Ontem foi dia de estupro coletivo praticado pela imprensa nacional, bem ao gosto dessa categoria calhorda e torpe do jornalismo brasileiro. Venham ver a calcinha da moradora da mansão! Ou melhor, venham ver as entranhas! O que assistimos ontem pelas mãos desses jornalistas malditos foi um linchamento atroz, uma invasão de domicílio e uma condenação coletiva antecipada do mais baixo nível. Ou seja, o nível do esgoto no qual o jornalista brasileiro vive. O crime teria sido viver dentro da casa dela, e passar creme dermatológico no rosto. Isso por si só a transformou em um monstro para esses vermes inúteis que passam a vida fofocando nas redes infernais. E foram esses parasitas de Facebook, Instagram, Twitter, que deram ao caso a proporção sádica e perversa que acabou ganhando. Se ela cometeu outro crime, em outro país, o tal crime já teria prescrito há décadas. O então marido já foi preso nos EUA pelo crime, cumpriu a pena, e hoje vive vida feliz e próspera.


O maior fanfarrão escroto da televisão brasileira, quase prefeito, quase governador, quase senador, quase presidente, que vive de sensacionalismo macabro e tenebroso, que vive aos berros para conseguir uma dose qualquer de sórdida audiência — ou de votos nas eleições — que lhe garanta as comissões dos produtos que ele anuncia no seu jornal satânico, passou o programa inteiro fiscalizando a vida, a casa, o telhado, a pintura, o jardim, os móveis, os animais, os outros imóveis, a conta-corrente, a calcinha, as entranhas da moradora da mansão. E diversos policiais, jornalistas, ambientalistas, servidores públicos, bombeiros, invadiram a casa da senhora, fotografaram, filmaram e postaram para o mundo inteiro. Eis as entranhas de uma senhora doente! Vamos todos gozar a saciedade das nossas perversões! Vejam as entranhas da senhora! Resta saber se todos os invasores daquela propriedade privada tinham autorização judicial para invadir aquele espaço. Vamos aguardar que algum membro do Judiciário venha a público explicar e condenar esse estupro e linchamento coletivos, e punir os responsáveis. Quem tinha autorização? Quem não tinha autorização? Como é possível que um bando de gente entre numa moradia e saia fotografando, filmando e espalhando tudo para o universo inteiro? A lei permite isso? Imagine você ter as suas calcinhas fotografadas e espalhadas pelas redes sociais! O que é isso, gente? Nós voltamos ao mesozoico? Somos bárbaros?


O jornalismo policial no Brasil virou um caso de polícia. Essa gente precisa ser processada e condenada. A sociedade precisa dar um basta a esse jornalismo de fofoquinha tóxica, venenosa, de quinta categoria. Jornalista prende, acusa, processa, condena, encarcera, liberta a quem bem entende. Ele sofre de uma síndrome de juiz. Esses jornalistas canalhas querem apenas audiência, e passam por cima da porta, da janela, do telhado, desde que consigam vender os produtos anunciados na grade publicitária. A mansão da senhora de São Paulo foi invadida por todas aquelas pessoas, por todos nós, mas também por todas as empresas que sustentam com suas propagandas esse jornalismo imundo e diabólico que impera no Brasil. Fossem outras gerações, fossem outros tempos, fossem outros povos e países, e todas as pessoas que ontem estupraram aqueles limites residenciais, desprovidas de autorização judicial, teriam sido recebidas a bala. E a lei daria respaldo a cada bala. Violar domicílio é crime. Legítima defesa é direito inalienável.


Thomas Jefferson against Calvinism