terça-feira, 6 de abril de 2021

Morador de rua é mais livre do que você

Morador de rua é mais livre do que você


Luiz Andrada

06 abr. 2021

luizandradabh@gmail.com





Estimado Ditador Alexandre Kalil, o Pequeno,


Venho por meio desta propor uma ação de equanimidade no trato da coisa pública nesta cidade de Belo Horizonte. Porque a coisa desandou, prefeito. A sopa esfriou. O caldo entornou.


Como pratico esporte por aí, pedalo, caminho, sempre testemunho cenas surreais. A seletividade da guarda municipal é uma das tais cenas. 


Um esportista é tratado no grito e logo preso pela truculenta guarda municipal por não utilizar a máscara. Tudo bem. É um risco que ele assume. Se não pode sair sem máscara, não pode. Mas, enfiar na viatura como se fosse criminoso?


Mudamos o cenário. Agora estou numa área nobre de Belo Horizonte, de gente riquíssima. Ao meu lado circulam Mercedes-Benz, BMW, Porsche. O espaço recebe muitos esportistas, vários não usam a máscara. Por nós transitam viaturas e motos da guarda municipal. Nenhum esportista rebelde foi preso. Os guardas municipais simplesmente ignoraram.


Curioso, não? Será medo de abordar a pessoa errada, desembargador, juiz, promotor, grandes empresários, políticos? Por que, afinal, a truculência da guarda municipal arrefece e brocha diante da elite?


Outro cenário. A Praça Sete, no Centro da capital mineira, acolhe muitos moradores de rua. Quase todos eles não usam máscara. E eu nunca vi um único guarda municipal enfiar um morador de rua na viatura porque não está usando a proteção.


Morador de rua é mais livre, e menos perturbado pelos agentes públicos enfurecidos, do que o restante da sociedade. Ou morador de rua não se contamina e nem transmite o coronavírus?


Você diria, prefeito, que obviamente os mendigos não usam porque não têm como comprar as máscaras. Mas, é justamente para isto que você existe: para socorrer quem perdeu tudo, e agora precisa da mão amiga da Prefeitura. Se você, Kalil, tem milhões de reais para alugar essas grades brutais que transformaram esta cidade numa cadeia, você pode comprar máscaras descartáveis para essas pessoas tão carentes. Há bons modelos e bem baratos.


Eu descobri que a coisa funciona assim: a Prefeitura deixa o cidadão em paz se ele estiver no extremo da riqueza, ou no extremo da pobreza.


A igualdade de Alexandre Kalil e de sua guarda municipal é cega para alguns, e violenta para outros. O nome disso é injustiça. Ou ditadura.


Thomas Jefferson against Calvinism