terça-feira, 25 de maio de 2021

O ovo

O ovo


Luiz Andrada

25 maio 2021

luizandradabh@gmail.com





Vivemos tempos árduos. Todos os bens de consumo estão sofrendo reajustes. Os alimentos dispararam, encarecendo absurdamente o nosso orçamento. Viver está caro demais. Muitos empresários e comerciantes, mercenários e desonestos, estão surfando na onda da velha tradição: “infelizmente vamos ter que repassar o aumento para o consumidor final”.


E os governos, que deveriam controlar a economia, colocar rédeas no empresariado, assistem a tudo do camarote. Os políticos aplaudem o circo que se formou. Raros são os empresários que aceitam receber menos no lucro, para ajudar um pouco o seu cliente, e assim fidelizar seus consumidores. Cabe a nós trairmos as empresas, e procurarmos outras opções, concorrentes mais sensibilizados com a desgraça que se abateu sobre o Brasil.


Há algum tempo, quando se visitava o supermercado tendo no bolso uma nota de cinquenta reais, a sacola chegava bem gordinha à residência. Hoje ela chega tísica.


A galinha é uma das que está enriquecendo bastante nesta pandemia. Nunca botou e vendeu tantos ovos. Pra todo lado as pessoas estão correndo atrás da galinha. É claro. E já foi avisado em rede nacional de televisão que em breve o ovo estará mais caro. Foi quase uma ameaça. Estamos acuados, tais como bichos famintos. Daqui a pouco nos roubarão até a graça de poder consumir simples ovos.


Eu tenho comido muito ovo. Muito mesmo. Acho até que estou virando galo, por osmose. Dia desses me peguei ciscando na rua, procurando minhocas.


Ovo à parmegiana, ovo à milanesa, ovo frito, ovo cozido, ovo mexido, omelete. Arroz, feijão e ovo. E pra variar, em outros momentos, feijão, arroz e ovo.


Escondidinho de ovo. Mas, muitas vezes, ovo escondidinho. Explico. Quando o ovo acaba, faz-se uma espécie de massa com arroz e fubá, imitando um ovo mexido, e a partir daí se elabora uma ficção de que aquilo é ovo. Mas não, é ovo escondidinho.


Eu não sei como terminará o caos que se estabeleceu no Brasil, e no mundo. Há países que já estão em pleno processo de recuperação da sua economia. Mas, o Brasil cisca, ou melhor, caminha para trás, como um caranguejo. As dinastias que sempre governaram o mundo — políticos, empresários, a casta do alto clero do serviço público, etc. — seguem suas vidas tranquilas, recebendo do povo os seus lucros, vencimentos, benefícios. Enquanto isso, o povo simples come ovo. Até quando eu não sei. Talvez um dia a quietude se desfaça, e a revolta contra esse cenário se estabeleça como um grito de basta. Ninguém aguenta mais!


Thomas Jefferson against Calvinism