Cristãos matando cristãos
Luiz Andrada
24 fev. 2022
Os cristãos ortodoxos orientais da Rússia estão matando os cristãos ortodoxos orientais da Ucrânia, e vice-versa. Uma carnificina em família. Sangue fraterno derramado no altar da religião e da política. Novidade nenhuma, aliás. Cristãos matam cristãos desde tempos imorredouros.
Cristãos escravizaram, torturaram, queimaram, explodiram, executaram, assassinaram outros cristãos desde quando o mundo transformou a mensagem de Jesus Cristo em política de estado e fonte de recursos financeiros. A partir daí os psicopatas do clero se uniram aos psicopatas da política e criaram essa coisa que aí está, de nome cristianismo.
Mas, eu entendo que o cristianismo soaria deveras estranho aos ouvidos do próprio Jesus Cristo. “O que é isso que fizeram com o Evangelho?”, ele perguntaria.
A pior prostituição que o mundo conhece é esta: a igreja e o estado se lambuzando no leito imundo das suas ambições. No caso da Rússia, Vladimir Putin, frequentador de igreja, é amigo do patriarca da igreja ortodoxa russa, Kirill. Obviamente, a matança de cristãos ucranianos recebe a bênção do patriarca russo. A xenofobia, atiçada pelo discurso religioso, ensina a ver o estrangeiro como um alvo a ser eliminado.
Outro exemplo trágico agora vindo da Grécia, um país também cristão ortodoxo oriental. Há alguns anos padres ortodoxos abençoaram uma das sedes do partido nazista grego, o Golden Dawn. Sem meias palavras, sem qualquer pudor, sem a menor chaga a doer na consciência. Padres, cristãos, líderes de uma igreja. Quando a Justiça grega acordou do sono plácido, declarou o Golden Dawn como organização criminosa, tamanho o dano que estava provocando naquela sociedade.
O que é um cristão nazista? Jesus Cristo conhece essa categoria melhor do que todos nós. Ele sonda e penetra as catacumbas do nosso coração e conhece o que há ali. Arreda de mim, satanás. Sim, as igrejas estão povoadas por demônios. Sempre estiveram. O lobo sempre privilegiou o contato com as ovelhas, porque se especializou no disfarce.
A igreja cristã unida aos políticos vai celebrar novamente o sangue derramado em família. Nenhum político ou clérigo lutará nas trincheiras. As ordens são dadas pelos líderes, mas a mão que aperta o gatilho e a vida entregue na causa estúpida da guerra pertencem aos militares. Basta ao padre dizer palavras vazias no velório, e basta ao político depositar flores na tumba do soldado.
Jesus Cristo abençoa uma guerra entre cristãos? Que fenômeno é esse, afinal?
Ilumina, Senhor, onde há treva, ali onde a sombra da morte reina, e dirige os nossos pés no caminho da paz. (Lucas 1:79, adaptado).
